sábado, 20 de fevereiro de 2010

Porque os fumantes têm direitos iguais na Assistência Médica

O Professor John A. Dormandy, Cirurgião Vascular - St George Hospital em Londres, deu esta resposta corajosa após o anúncio de que os hospitais de Norfolk e Staffordshire recusariam realizar cirurgias em pacientes fumantes enquanto eles não abandonassem os cigarros. Além de confessar que é fumante há 50 anos, coisa que raros profissionais em posição muito inferior à dele fazem, classificou a atitude como imoral. A sua resposta vai ao encontro das nossas posições porque mostra o quanto os médicos estão se afastando da própria missão da profissão ao tratarem a questão do fumante.

"Isso não apenas imoral: é dar aos fumantes tratamento pior do que recebem os assassinos"
Prof. John A Dormandy


"Fumar é um hábito sedutor. Tenho visto como isso pode bloquear artérias e já tratei muitos pacientes cujos problemas eram diretamente ligados ao seu vício.

Mesmo assim, acho que a proposta de negar cirurgias a fumantes é mais um exemplo de loucura do politicamente correto. Como é que criminosos violentos podem receber cirurgia e há dúvidas se os fumantes teriam esse direito?

Os médicos são obrigados a tratar seus pacientes da forma que os recebe, e a simples sugestão de que alguém poderia ter este e outros procedimentos para salvar a vida negados simplesmente porque são fumantes é imoral.

Quando recebo um paciente que levou um tiro, não lhe pergunto quais foram as circunstâncias. Se um indivíduo embriagado é internado após bater o carro numa árvore, não me recuso a atendê-lo - isso é brincar de Deus.

É nossso dever como médicos aconselhar nossos pacientes sobre seus riscos. Se um paciente fuma dizemos que ele tem maior probabilidade de desenvolver um câncer de pulmão aós a cirurgia, porque isso pode ser um efeito colateral da anestesia geral.

E se um paciente vai fazer um bypass coronariano, minha especialidade em cirurgia cardíada, são alertados que caso continuem a fumar, outras partes da artéria vão se estreitar e eles precisarão de outras cirurgias ou correrão risco de outro infarto.

Mas uma vez que um fumante sobrevive a uma cirurgia como a de prótese de quadril, por exemplo, a recuperação será igual a de qualquer outro paciente. Se o paciente resolve não ser operado após ter recebido nossos conselhos, a decisão deve ser dele.

Isso é muito diferente do que dizer que ele não deve ser operado porque foi o cigarro que causou sua doença.Nosso dever é tratar os pacientes da melhor forma possível, independente de como eles adoeceram, e não castigá-lo por causa do seu estilo de vida. A única excessão é no caso de um transplante, pois o número de doadores é pequeno e devemos beneficiar aquele que tem maiores chances. Se houver apenas 1 coração e temos que escolher entre um senhor de 80 anos, que já teve 3 infartos e fuma, e um indivíduo de 40 que não fuma, o de 40 terá prioridade.

Isso, infelizmente, é inevitável quando os órgãos são racionados. Mas para cirurgia vascular - que normalmente não é racionada - não julgamos se o paciente é uma pessoa boa ou uma pessoa má; avaliamos a emergência médica e a cirurgia é realizada com este critério. Não me oponho a essa política apenas como clínico, mas como fumante também. Fumo há 50 anos. Gostaria de não fumar, mas tenho esse vício, apesar de ter conseguido diminuir o consumo.

Tentei de tudo, desde adesivos de nicotina à boa e velha força de vontade, mas nada funcionou. Por ano, cerca de 3% de fumantes tentam parar e 80% não conseguem.Porque eu ou qualquer outro paciente que eu atendo devemos ser discriminados por causa do nosso vício? Se o Governo tornasse o fumo ilegal seria diferente, mas enquanto for legalizado a nação deve aos fumantes os mesmos cuidados que recebem os não fumantes.

Há tanto fervor anti-fumantes neste país! Vejo no meu próprio hospital: pacientes podem fumar nos jardins externos, mas aqueles que estão literalmente morrendo e impossibilitados de sair do hospital não podem fumar porque não há um local para isto.

Esta é a derradeira e totalmente desnecessária crueldade - estamos o privando do único prazer que lhes sobrou. É óbvio que fumar não é um estilo de vida ideal, e os médicos deveriam encorajar fumantes a parar. Mas muitos estilos de vida não são ideais. Deveríamos negar tratamento a homens que abandonam esposa e filhos?

Já é tempo do governo parar de discriminar os fumantes e permitir aos médicos tratar todos os pacientes da melhor forma possível. Negar essas cirurgias é simplesmente uma punição."

2 comentários:

  1. Que eu saiba, os cigarros são extremamente tributados no mundo todo. Um hospital que se recuse a operar um fumante está lhe prejudicando duas vezs: 1) o fumante pagou mais impostos; 2) o fumante não recebeu um tratamento.
    Médicos assim são vigaristas e fascistas.
    Concordo coma opinião do médico acima. Só acho que deveriam divulgar mais que os fumantes serão preteridos em transplantes. Vou avisar minha família que não doarei meus órgãos: se não servem para nós fumantes, não temos por que doá-los.

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  2. Já ouvi de um advogado que as liberdades civis atuais, por conta da ditadura da saúde e da paranóia terrorista são muito menores do que na época da ditadura.
    Veja o absurdo desse post: http://eufumoblog.blogspot.com/2009/12/gordo-demais-para-se-formar.html
    Ninguém vai escapar ileso da Indústria da Saúde.

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